O juízo final
12. ─ Jesus virá sobre as nuvens, para julgar os vivos e os mortos.
Sim, Deus o enviará, como o envia todos os dias, fazer essa justiça soberana nas planícies imensas do éter. Ah! Quando São Tiago foi precipitado do alto da torre do templo de Jerusalém, pelos pontífices e fariseus, por ter anunciado ao povo reunido esta verdade ensinada pelo Cristo e seus apóstolos, lembraivos que a essa palavra do justo a multidão se prosternou exclamando: Glória a Jesus, filho de Deus, no mais alto dos céus!
Ele virá sobre as nuvens proferir suas terríveis sentenças. Isto não quer dizer, ó espíritas, que ele vem perpetuamente receber as almas dos que entram na erraticidade? Passai à minha direita, diz o pastor às suas ovelhas, vós que agistes bem, segundo as vistas de meu Pai; passai à minha direita e subi para ele; quanto a vós, que vos deixastes dominar pelas paixões da Terra, passai à minha esquerda; estais condenados.
Sim, estais condenados a recomeçar o caminho percorrido, em nova existência terrena, até que vos vejais saciados de matérias e iniquidades, e que, enfim, tenhais expulso o impuro que vos domina. Sim, estais condenados; ide e voltai ao inferno da vida humana, enquanto vossos irmãos da minha direita vão penetrar as esferas superiores, de onde as paixões da Terra são excluídas, até o dia em que eles entrarão no reino de meu Pai, por uma maior purificação.
Sim, Jesus virá julgar os vivos e os mortos. Os vivos: os justos, os da sua direita; os mortos: os impuros, os da sua esquerda; e quando nascerem as asas dos justos, a matéria ainda tomará os impuros, e isto até que estes saiam vencedores dos combates contra a impureza e enfim se despojem, para sempre, de suas crisálidas humanas.
O espíritas! Vedes que vossa doutrina é a única que consola, a única que dá esperança, não condenando a uma danação eterna os infelizes que se comportaram mal durante alguns minutos da eternidade; a única, enfim, que prediz o fim verdadeiro da Terra pela elevação gradual dos Espírito.
Progredi, pois, despojando-vos do homem velho, para entrar na região dos Espíritos amados por Deus.
ERASTO
(Paris, 1861)
13. ─ A Sociedade em geral ou, para dizer melhor, a reunião dos seres, tanto encarnados quanto desencarnados, que compõem a população flutuante de um mundo, numa palavra, uma Humanidade, não é senão uma criança coletiva que, como todo ser dotado de vida, passa por todas as fases que se sucedem em cada um, desde o nascimento até a mais avançada idade. Assim como o desenvolvimento do indivíduo é acompanhado por certas perturbações físicas e intelectuais que ocorrem mais particularmente em certos períodos da vida, a Humanidade tem as suas doenças de crescimento, seus desmoronamentos morais e intelectuais. É a uma dessas grandes épocas que marcam o término de um período e o início de outro que vos é dado assistir. Participando ao mesmo tempo das coisas do passado e das do futuro; dos sistemas que se esboroam e das verdades que se estabelecem, tende cuidado, meus amigos, de vos pôr do lado da solidez, do progresso e da lógica, se não quiserdes ser levados à deriva, e de abandonar os palácios suntuosos quanto à aparência, mas vacilantes pela base, e que em breve enterrarão sob suas ruínas os infelizes bastante insensatos para não querer deles sair, malgrado as advertências de toda natureza que lhes são prodigalizadas.
Todas as frontes se anuviam e a calma aparente que desfrutais só serve para acumular um maior número de elementos destruidores.
Algumas vezes a tempestade que destrói o fruto dos suores de um ano é precedida por precursores que permitem tomar as precauções necessárias para evitar, tanto quanto possível, a devastação. Desta vez não será assim. O céu carregado parecerá iluminar-se; as nuvens fugirão; depois, de repente, todos os furores longamente comprimidos desencadear-se-ão com uma violência inusitada.
Infelizes aqueles que não tiverem preparado um abrigo! Infelizes os fanfarrões que enfrentarem o perigo de mãos desarmadas e peito descoberto! Infelizes aqueles que desafiarem o perigo a golpes de mão! Que decepção terrível os espera! Antes que a taça que sustentam chegue aos seus lábios, eles serão atingidos!
À obra, pois, espíritas, e não esqueçais que deveis ser todo prudência e todo previdência. Tendes um escudo. Sabei dele vos servir. Tendes uma âncora de salvação. Não a desprezeis.
CLÉLIE DUPLANTIER
(Paris, 1867)