Enterro do Sr. Marc Michel
Lê-se no
Temps de 27 de março de 1868:
“Ontem, no enterro do Sr. Marc Michel, o Sr. Jules Adenis disse adeus, em nome da Sociedade dos Autores Dramáticos, ao escritor que a comédia alegre e ligeira acaba de perder.
“Encontro esta frase em seu discurso:
“
Foi Ferdinand Langlé que recentemente precedeu no túmulo aquele que hoje choramos... E ─ Quem sabe? Quem pode dizê-lo?...─ assim como acompanhamos até aqui estes despojos mortais, talvez a alma de Langlé tenha vindo receber a alma de Marc Michel no limiar da eternidade.”
“Com certeza a falta é de meu espírito muito leviano, mas confesso que me é difícil imaginar, com a gravidade conveniente, a alma do autor de
Sourd, de
Camarade de lit, de
Une sangsue, da
Grève des portiers, vir receber no limiar da eternidade a alma do autor de
Maman Sabouleux, de
Mesdames de Montenfriche, de um
Tigre du Bengale e da
Station de Champbaudet.
“X. FEYRNET.”
O pensamento emitido pelo Sr. Jules Adenis é do mais puro Espiritismo. Suponhamos que o autor do artigo, o Sr. Feyrnet, que tem dificuldade em manter uma
gravidade conveniente ouvindo dizer que a alma do Sr. Langlé talvez estivesse presente e viesse receber a alma de Marc Michel, tivesse tomado a palavra e, por sua vez, assim se tivesse expressado: “Senhores, acabam de vos dizer que a alma do nosso amigo Langlé aqui está, que ela nos vê e nos ouve! Ele não precisaria senão acrescentar que ela pode nos falar. Não acrediteis numa só palavra. A alma de Langlé não existe mais; ou então, o que dá no mesmo, ela se fundiu na imensidade. De Marc Michel não resta mais nada. A mesma coisa acontecerá convosco, quando morrerdes, como também com vossos pais e amigos. Esperar que eles vos esperem, que vos venham receber no desembarque da vida é loucura, superstição, iluminismo. Eis o positivo: Quando se morre, tu está acabado.” Qual dos dois oradores teria achado mais simpatia na assistência? Qual teria enxugado mais lágrimas, dado mais coragem e resignação aos aflitos? O infeliz que não espera mais alívio neste mundo, não teria razões para lhe dizer: “Se é assim, acabemos o mais cedo possível com a vida?” É preciso lamentar o Sr. Feyrnet por não poder conservar-se sério ante a ideia que seu pai e sua mãe, se ele os perdeu, ainda vivem, que eles velam à sua cabeceira e que ele voltará a vê-los.