Futuro do Espiritismo
8. ─ Depois de suas primeiras etapas, o
Espiritismo, aguerrido, desembaraçando-se cada vez mais das
obscuridades que lhe serviram de fraldas, em breve fará o seu
aparecimento na grande cena do mundo.
Os
acontecimentos andam com tal rapidez que não é possível desconhecer a
poderosa intervenção dos Espíritos que presidem os destinos da Terra. Há
como que um estremecimento íntimo nos flancos do vosso globo em
trabalho de parto; novas raças saídas das altas esferas vêm turbilhonar
em torno de vós, esperando a hora de sua encarnação messiânica, e para
isto se preparando pelo estudo das vastas questões que hoje abalam a
Terra.
De todos os lados veem-se
sinais de decrepitude nos usos e legislações que não mais estão de
acordo com as ideias modernas. As velhas crenças adormecidas há séculos
parecem despertar de seu torpor secular e se admiram de se verem em luta
com novas crenças emanadas dos filósofos e dos pensadores deste século e
do século passado. O sistema abastardado de um mundo que não era senão
um simulacro, se esboroa ante a aurora do mundo real, do mundo novo. A
lei de solidariedade, da família, passou aos habitantes dos Estados,
para em seguida conquistar a Terra inteira, mas essa lei tão sábia, tão
progressiva, essa lei divina, numa palavra, não se limitou a esse
resultado único; infiltrando-se no coração dos grandes homens,
ensinou-lhes que não só ela era necessária ao grande melhoramento da
vossa habitação, mas se estendia a todos os mundos do vosso sistema
solar, para de lá estender-se a todos os mundos da imensidade.
É bela essa lei da solidariedade universal, porque nela se encontra essa máxima sublime: Todos por um e um por todos.
Eis, meus filhos, a verdadeira lei do Espiritismo, a verdadeira conquista de um futuro próximo.
Marchai,
pois, imperturbavelmente em vossa estrada, sem vos preocupar com as
troças de uns e o amorpróprio ferido de outros. Estamos e ficaremos
convosco, sob a égide do Espírito de Verdade, meu mestre e vosso mestre.
ERASTO
(Paris, 1863)
9.
─ Cada dia o Espiritismo estende o círculo de seu ensino moralizador.
Sua grande voz repercutiu de um extremo ao outro da Terra. A Sociedade
se comoveu com ela, e de seu seio partiram adeptos e adversários.
Adeptos
fervorosos, adversários hábeis, mas cuja própria habilidade e renome
serviram à causa que queriam combater, chamando para a doutrina nova a
atenção das massas e lhes dando o desejo de conhecer os ensinos
regeneradores que seus adeptos preconizam e que eles escarneciam e
ridicularizavam.
Contemplai o
trabalho realizado e alegrai-vos com o resultado! Mas que efervescência
indizível se produzirá entre os povos, quando os nomes de seus mais
amados escritores vierem juntar-se aos nomes mais obscuros e menos
conhecidos daqueles que se comprimem em redor da bandeira da verdade!
Vede
o que produziram os trabalhos de alguns grupos isolados, na maioria
entravados pela intriga e pela má vontade, e imaginai a revolução que se
operará, quando todos os membros da grande família espírita se derem as
mãos e declararem, fronte alta e o coração firme, a sinceridade de sua
fé e de sua crença na realidade do ensinamento dos Espíritos.
As
massas gostam do progresso, buscam-no, mas o temem. O desconhecido
inspira um secreto temor aos filhos ignorantes de uma sociedade embalada por preconceitos, que ensaia os primeiros passos na via da realidade e
do progresso moral. As grandes palavras liberdade, progresso, amor,
caridade ferem o povo sem comovê-lo; muitas vezes ele prefere seu estado
presente e medíocre a um futuro melhor, mas desconhecido.
A
razão desse temor do futuro está na ignorância do sentimento moral num
grande número, e do sentimento inteligente nos outros. Mas não é certo,
como disseram vários filósofos célebres, que uma concepção falsa da
origem das coisas tenha feito errar, como eu mesmo o disse, ─ por que
coraria de dizê-lo? Não pude enganar-me? ─ não é certo, dizia eu, que a
Humanidade seja má por essência. Não, aperfeiçoando a sua inteligência,
ela não dará um impulso maior às suas más qualidades. Afastai de vós
esses pensamentos desesperadores que repousam num falso conhecimento do
espírito humano.
A Humanidade não é
má por natureza, mas é ignorante, e por isso mesmo mais apta a se
deixar governar por suas paixões. Ela é progressiva e deve progredir
para atingir os seus destinos; esclarecei-a; mostrai-lhe seus inimigos
ocultos na sombra; desenvolvei sua essência moral, que nela é inata, e
apenas entorpecida sob a influência dos maus instintos, e reanimareis a
centelha da eterna verdade, da eterna presciência do infinito, do belo o
do bom, que residem para sempre no coração do homem, mesmo do mais
perverso.
Filhos de uma doutrina
nova, reuni as vossas forças! Que o sopro divino e o socorro dos bons
Espíritos vos sustentem, e fareis grandes coisas. Tereis a glória de
haver posto as bases dos princípios imperecíveis cujos frutos vossos
descendentes colherão.
MONTAIGNE
(Paris, 1865)