O Barão Clootz
Sob o título de: Um voto humanitário, Anacharsis Clootz, barão prussiano, convencional francês, aos seus concidadãos de Paris e de Berlim, o Progrès de Lyon, de 27 de abril de 1867, publicava, sob a forma de uma carta supostamente escrita do outro mundo, pelo convencional Clootz, um artigo muito longo que assim começava:
“No outro mundo, onde eu habito, desde a terrível jornada de 24 de março de 1794, que, confesso, me desiludiu um pouco sobre os homens e sobre as coisas, só a palavra guerra guarda o privilégio de me recordar as preocupações da política terrestre. Aquilo que mais amei, que digo eu? adorei e servi, quando morava em vosso planeta, foi a fraternidade dos povos e a paz. A esse grande objeto de estudo e de amor, dei um penhor muito sério: minha cabeça, à qual as minhas cem mil libras de renda, aos olhos de muita gente, acrescentavam importante valor. O que de fato me consolava um pouco, ao subir os degraus do cadafalso, eram os considerandos pelos quais Saint-Just acabava de justificar a minha prisão. Ali era dito, se bem me lembro, que de então em diante, a paz, a justiça e a probidade seriam postas na ordem do dia. Eu teria dado a minha vida, e o declaro convictamente sem hesitar, e duas vezes em vez de uma, para obter a metade desse resultado. E notai, por favor, que meu sacrifício era mais completo e mais profundo do que teria sido o da maior parte dos meus colegas. Eu agia de boa-fé e guardava o respeito à justiça no fundo do coração; mas, sem falar dos cultos aos quais tinha horror, o Ser supremo de Robespierre, ele mesmo, me maltratava os nervos, e a vida futura tinha para mim a aparência de um belo conto de fadas. Certamente me perguntareis o que ela é. Eu estava errado? Eu tinha razão? Eis o grande segredo dos mortos. Julgai vós mesmos, por vossa conta e risco. Contudo, parece que eu ia um pouco longe, porque, nesta ocasião solene, me é permitido vos escrever.”
Sendo o artigo exclusivamente político e saindo do nossos propósitos, citamos apenas este fragmento, para mostrar que, mesmo nesses graves assuntos, podemos tirar proveito da ideia dos mortos dirigindo-se aos vivos, para junto a estes continuar relações interrompidas. A cada instante o Espiritismo vê realizar-se esta ficção. É mais que provável que foi ele que deu esta ideia. Ademais, se ela fosse dada como real, ele não a desaprovaria.