Bibliografia
Esse jornal, que há um ano era publicado em Madrid, sob o título de El criterio, revista quincenal científica, acaba de retomar o seu primeiro título, que tinha sido interdito no precedente governo espanhol. O diretor o anuncia nos seguintes termos, num suplemento do nº 17:
“Com a imensa alegria do triunfo, merecido não por nossas forças débeis, mas pela bondade de nossa causa, hoje nos dirigimos aos nossos constantes protetores, aos amigos que nos encorajaram e sustentaram na desgraça.
“A intolerância do governo anterior nos havia interditado o exercício da mais frutífera das liberdades: a do estudo, quando um dia, triste pela decepção, feliz porque foi o primeiro da luta, quisemos publicar o Criterio espiritista. Vejam a resposta que nos foi dada pelo secretário ministerial:
“Governo da província; seção da imprensa. ─ Depois de haver examinado o primeiro número do jornal de que sois editor e diretor, vi que, por seu caráter especial, suas tendências e a escola filosófica que ele procura desenvolver, deve ser compreendido entre os que assinala o segundo parágrafo do artigo 52 da lei em vigor sobre a imprensa; previno-vos que não me é possível autorizar o dito número, nem os seguintes, se previamente não forem examinados e aprovados pela censura eclesiástica. Deus vos guarde etc.
“Madri, 17 de julho de 1867.”
“No dia 10 de agosto seguinte recebemos o telegrama cuja cópia segue:
“Secretaria eclesiástica de Madrid. ─ Em consequência da desfavorável censura com que foi atingido o primeiro número da Revista O Critério Espiritista, que vós dirigis, tenho o dever de vos manifestar que não posso, de modo algum, permitir, de minha parte, a publicação da dita Revista. Deus vos guarde, etc.
“Madrid, 6 de agosto de 1867.”
“Estes documentos não contribuirão para a maior glória de seus autores, cujos nomes abstemo-nos de dar à publicidade, por conveniência. Hoje podemos vir à luz, e o Criterio científico é substituído pelo Criterio espiritista. A direção está instalada na Calle del Arco de Santa-Maria, nº 25, sala 2; é para aí que poderiam dirigir-se os adeptos que quisessem fazer parte da Sociedade Espírita Espanhola, fundada em 1865, e que teve que suspender suas sessões pelos mesmos motivos que haviam impedido a publicação do jornal.”
O regulamento da sociedade, que temos aos nossos olhos, é concebido em excelente espírito, e não podemos senão aplaudir as disposições que ele contém. Ele se coloca sob o patrocínio do Espírito de Sócrates, e seu objetivo é claramente definido nos dois primeiros artigos:
“1º - É constituído um círculo privado, sob a denominação de Sociedade Espírita Espanhola, cujo objeto é o estudo do Espiritismo, principalmente no que se refere à moral e ao conhecimento do mundo invisível ou dos Espíritos;
“2º - A sociedade não poderá, em caso algum, ocupar-se de questões políticas, nem de discussões ou controvérsias religiosas, que tenderiam a lhe dar o caráter de uma seita.”
Estas disposições são de natureza a assegurar os que supusessem à Sociedade tendências perturbadoras. No momento de uma revolução que acaba de quebrar os entraves postos à liberdade de pensar, de falar e de escrever, em que as massas emancipadas são geralmente tentadas a ultrapassar os limites da moderação, nem a Sociedade, nem o seu órgão pensam em aproveitá-lo para se afastar do objetivo exclusivamente moral e filosófico da Doutrina. Ela não proíbe apenas a política, mas até mesmo as controvérsias religiosas, por espírito de tolerância e de respeito à consciência de cada um. O diretor do jornal se abstém mesmo de estigmatizar, pela publicidade, os nomes dos signatários dos decretos que interditaram o seu jornal, para não entregá-los ao repúdio público. É que o Espiritismo bem compreendido é por toda a parte o mesmo: uma garantia de ordem e de moderação. Ele não vive de escândalos; ele tem o sentimento de sua dignidade em alto grau e vê as coisas de muito alto, para se rebaixar às personalidades que denotam sempre pequenez de espírito, e não se aliam jamais à nobreza de coração.
O primeiro número de Criterio espiritista contém os artigos seguintes:
Introdução, por Alverico Peron. ─ O Dia dos Mortos, comunicação assinada por Sócrates, recebida na Sociedade de Sevilha. ─ A faculdade mediúnica. ─ A Bíblia, comunicação assinada por Sócrates. ─ Sessão de magnetismo. ─ As metades eternas, comunicação de Sócrates. ─ Carta de um espírita. ─ Carta ao Sr. Alverico Peron, por Allan Kardec, e comunicação de São Luís sobre a nova situação do Espiritismo na Espanha. ─ Revista Espírita de Paris.
Aconselhamos com instância os nossos irmãos espíritas da Espanha a sustentar com todas as suas forças esse órgão de sua crença. Pela sabedoria e prudência de sua redação, ele não pode deixar de servir utilmente a nossa causa. Será um laço que estabelecerá relações entre os adeptos disseminados em diferentes pontos da Espanha. O diretor, Sr. Alverico Peron, não é um novato em nossas fileiras; seus esforços para a propagação da Doutrina datam de 1858, e nos lembramos com prazer a Fórmula del espiritismo, que ele teve a bondade de nos dedicar.