Revista espírita — Jornal de estudos psicológicos — 1868

Allan Kardec

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Lê-se o seguinte no 2º volume dessa obra, que teve um sucesso popular nos dois mundos:

Página 10. ─ Meu pai era um aristocrata. Creio que, nalguma existência anterior, ele deve ter pertencido às classes da mais elevada ordem social, e que tenha trazido consigo, na atual, todo o orgulho de sua antiga casta, porque esse orgulho lhe era inerente; estava na medula de seus ossos, embora ele fosse de uma família pobre e plebeia.

Página 128. ─ Evidentemente as palavras que ele havia cantado nessa mesma tarde lhe atravessavam o espírito, palavras de súplica dirigidas à infinita misericórdia. Seus lábios moviam-se fracamente, e, com raros intervalos, escapavalhes uma palavra.

─ Seu espírito varia, disse o médico.

─ Não, ele volta a si, disse Saint-Claire com energia.

Esse esforço o esgotou. A palidez da morte espalhou-se em seu rosto, mas com ela uma admirável expressão de paz, como se algum Espírito misericordioso o tivesse abrigado sob suas asas. Ele parecia uma criança que dorme de fadiga.

Ele ficou assim alguns instantes; uma mão todo-poderosa repousava sobre ele. Mas, no momento em que o Espírito ia alçar o seu voo, ele abriu os olhos, que um clarão de alegria iluminou, como se reconhecesse um ser amado, e murmurou baixinho: “Minha mãe!” Sua alma se tinha evolado.

Página 200. ─ Oh! Como a alma perversa ousa penetrar neste mundo tenebroso do sono, cujos limites incertos se avizinham tanto das cenas apavorantes e misteriosas da retribuição!

OBSERVAÇÃO: É impossível exprimir mais claramente a ideia da reencarnação, da origem de nossas inclinações e da expiação sofrida nas existências posteriores, porquanto se diz que o que foi rico e poderoso pode renascer na pobreza. É notável que esta obra tenha sido publicada nos Estados Unidos, onde o princípio da pluralidade das existências terrenas há muito é rejeitado. Ela apareceu em 1850, na época das primeiras manifestações espíritas, quando a doutrina da reencarnação ainda não havia sido proclamada na Europa. A Sra. Beecher Stowe então a havia colhido em sua própria intuição. Ela aí percebia a única razão plausível das aptidões e das propensões inatas. O segundo fragmento citado é precisamente o quadro da alma que entrevê o mundo dos Espíritos no momento do seu desligamento.

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