Revista espírita — Jornal de estudos psicológicos — 1863

Allan Kardec

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(Sociedade Espírita de Paris - Médium: Sra. Costel)

O panteísmo, ou a encarnação do Espírito na matéria, da ideia na forma, é o primeiro passo do paganismo para a lei do amor, que foi revelada e pregada por Jesus.

Ávida de prazeres, empolgada pela beleza exterior, a Antiguidade quase não olhava além do que via. Sensual e ardente, ela ignorava as melancolias que nascem da dúvida inquieta e das ternuras recalcadas. Ela temia os deuses, cuja imagem suavizada colocava na sala de estar de suas residências. A escravidão e a guerra a roíam por dentro e a esgotavam por fora. Em vão a Natureza sonora e magnífica convidava os homens a compreender o seu esplendor, mas eles a temiam ou a adoravam, como aos deuses. Os bosques sagrados participavam do terror dos oráculos, e nenhum mortal separava os benefícios de sua solidão das ideias religiosas que faziam palpitar a árvore e fremir a pedra.

O panteísmo tem duas faces, sob as quais convém estudá-lo. Primeiro, a separação infinita da natureza divina, dividida em todas as partes da criação e se reencontrando nos mais ínfimos detalhes, assim como na sua magnificência, isto é, uma confusão flagrante entre a obra e o obreiro. Em segundo lugar, a assimilação da Humanidade, ou antes, sua absorção na matéria. O panteísmo antigo encarnava as divindades; o moderno panteísmo assimila o homem ao reino animal e faz surgirem as moléculas criadoras do forno ardente onde se elabora a vegetação, confundindo os resultados com o princípio.

Deus é a ordem, que a confusão humana não poderia perturbar. Tudo vem a propósito: a seiva para as árvores e o pensamento para os cérebros. Nenhuma ideia, filha do tempo, é abandonada ao acaso. Ela tem a sua fieira, um estreito parentesco que lhe dá a razão de ser, a liga ao passado e a convida ao futuro. A história das crenças religiosas é a prova dessa verdade absoluta, pois não houve nenhuma idolatria, nenhum sistema, nenhum fanatismo que não tivesse tido sua poderosa e imperiosa razão de existir. Todos avançavam para a luz, todos convergiam para o mesmo objetivo e todos virão confundir-se, como as águas dos rios longínquos, no vasto e profundo mar da unidade espírita.

Assim, o panteísmo, precursor do Catolicismo, levava em si o germe da universalidade de Deus. Ele inspirava aos homens a fraternidade para com a Natureza, essa fraternidade que Jesus lhes devia ensinar a praticar uns para com os outros, fraternidade sagrada, reforçada hoje pelo Espiritismo, que vitoriosamente religa os seres terrenos ao mundo espiritual.

Em verdade eu vo-lo digo, a lei de amor desenrola lentamente, e de maneira contínua, suas espirais infinitas. É ela que, nos ritos misteriosos das religiões da Índia, diviniza o animal, sagrando-o por sua fraqueza e por seus serviços humildes. É ela que povoava de deuses familiares os lares purificados. É ela que, em cada uma das crenças diversas, faz com que as gerações soletrem uma palavra do alfabeto divino.

Mas estava reservado a Jesus proclamar a ideia universal que as resume todas. O Salvador anunciou o amor e o tornou mais forte que a morte. Ele disse aos homens: “Amai-vos uns aos outros; amai-vos na dor, na alegria, no opróbrio; amai a Natureza, vossa primeira iniciadora; amai os animais, vossos humildes companheiros; amai o que começa, amai o que acaba.”

O Verbo do Eterno chama-se amor e abraça, numa inextinguível ternura, a Terra onde passais e os Céus onde entrareis, purificados e triunfantes.

LÁZARO

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