Comunicação coletiva
(Sociedade de Paris, 1 de novembro de 1866 - Médium: Sr. Bertrand)
A 1º de novembro último, estando reunida, como de hábito, para a comemoração dos mortos, a Sociedade recebeu muitas comunicações, entre as quais uma sobretudo se distinguia por sua feitura inteiramente nova, e que consiste numa série de pensamentos soltos, cada um assinado por um nome diferente, que se encadeiam e se completam uns pelos outros. Eis essa comunicação:
Meus amigos, quantos Espíritos em torno de vós, que queriam comunicar-se e dizer quanto vos amam! E como seríeis felizes se o nome de todos os que vos são caros fosse pronunciado à mesa dos médiuns! Que felicidade! Que alegria para cada, um de vós, se vosso pai, vossa mãe, vosso irmão, vossa irmã, vossos filhos e vossos amigos vos viessem falar! Mas compreendeis que é impossível sejais todos satisfeitos, pois o número de médiuns não seria suficiente. Mas o que não é impossível é que um Espírito, em nome de todos os vossos parentes, venha dizervos: Obrigado por vossa boa lembrança e vossas fervorosas preces. Coragem! Tende esperança de que um dia, depois da vossa libertação, viremos todos estender-vos a mão. Ficai persuadidos de que o que vos ensina o Espiritismo é o eco das leis do Onipotente; pelo amor, tornai-vos todos irmãos, e aliviareis o fardo pesado que carregais.
Agora, caros amigos, todos os vossos Espíritos protetores virão trazer-vos o seu pensamento. Tu, médium, escuta e deixa o lápis correr seguindo a ideia deles.
A medicina faz o que fazem os caranguejos espantados.
DR. DEMEURE.
Porque o magnetismo progride, e progredindo esmaga a medicina atual, para substituí-la em futuro próximo.
MESMER.
A guerra é um duelo que só cessará quando os combatentes tiverem forças iguais.
NAPOLEÃO.
Forças iguais material e moralmente.
GENERAL BERTRAND.
A igualdade moral reinará quando o orgulho for destituído.
GENERAL BRUNE.
As revoluções são abusos que destroem outros abusos.
LUÍS XVI.
Mas esses abusos fazem nascer a liberdade.
(Sem nome).
Para serem iguais é preciso ser irmãos; sem fraternidade, nenhuma igualdade e nenhuma liberdade.
LAFAYETTE.
A ciência é o progresso da inteligência.
NEWTON.
Mas, o que lhe é preferível, é o progresso moral.
JEAN REYNAUD.
A ciência ficará estacionária até que a moral a tenha atingido.
FRANÇOIS ARAGO.
Para desenvolver a moral é antes preciso erradicar o vício.
BÉRANGER.
Para erradicar o vício é preciso desmascará-lo.
EUGÈNE SUE.
É isto o que todos os Espíritos fortes e superiores procuram fazer.
JACQUES ARAGO.
Três coisas devem progredir: a música, a poesia e a pintura. A música transporta a alma ferindo o ouvido.
MEYERBEER.
A poesia transporta a alma abrindo o coração.
CASIMIR DELAVIGNE.
A pintura transporta a alma acariciando os olhos.
FLANDRIN.
Então a poesia, a música e a pintura são irmãs e se dão as mãos; uma para abrandar o coração, outra para suavizar os costumes e a última para abrir a alma; as três para vos elevar ao Criador.
ALFRED DE MUSSET.
Mas nada, nada deve progredir mais, no momento, do que a Filosofia; ela deve dar um passo imenso, deixando estacionar a Ciência e as Artes, mas para elevá-las tão alto, quando chegar o momento, pois essa elevação seria muito súbita para vós hoje.
Em nome de todos,
SÃO LUÍS.
A 6 de dezembro, o Sr. Bertrand recebeu, no grupo do Sr. Desliens, uma comunicação do mesmo gênero, que de certo modo é continuação da precedente.
O amor é uma lira cujas vibrações são acordes divinos.
HELOÍSA.
O amor tem três cordas em sua lira: a emanação divina, a poesia e o canto; se uma delas falta, os acordes são imperfeitos.
ABELARDO.
O amor verdadeiro é harmonioso; suas harmonias embriagam o coração, elevando a alma. A paixão afoga os acordes, rebaixando a alma.
BERNARDIN DE SAINT-PIERRE.
Era o amor que Diógenes procurava, procurando um homem... que veio séculos depois, e que o ódio, o orgulho e a hipocrisia crucificaram.
SÓCRATES.
Os sábios da Grécia por vezes o foram mais nos escritos e nas palavras que em sua pessoa.
PLATÃO.
Ser sábio é amar; procuremos então o amor pela senda da sabedoria.
FÉNELON.
Não podeis ser sábios se não vos souberdes elevar acima da maldade dos homens.
VOLTAIRE.
Sábio é aquele que não acredita sê-lo
CORNEILLE.
Quem se julga pequeno é grande; quem se julga grande é pequeno.
LAFONTAINE.
O sábio julga-se ignorante, e quem se julga sábio é ignorante.
ESOPO.
A humildade ainda se crê orgulhosa e quem se crê humilde não o é.
RACINE.
Não confundais com os humildes os que dizem, por falsa modéstia, ou por interesse, o contrário do que são, pois laboraríeis em erro. Nesse caso, a verdade se cala.
BONNEFOND.
O gênio se possui por inspiração e não se adquire; Deus quer que as maiores coisas sejam descobertas ou inventadas por seres sem instrução, a fim de paralisar o orgulho, tornando o homem solidário do homem.
FRANÇOIS ARAGO.
Tratam de loucos apenas aqueles cujas ideias não são sancionadas pela autoridade da Ciência; é assim que aqueles que julgam tudo saber, rejeitam os pensamentos geniais daqueles que nada sabem.
BÉRANGER.
A crítica é o estimulante do estudo, mas ela é a paralisação do gênio.
MOLIÈRE.
A ciência aprendida é apenas um esboço da ciência inata; ela não se torna inteligência senão na nova encarnação.
J.-J. ROUSSEAU.
A encarnação é o sono da alma; as peripécias da vida são os seus sonhos.
BALZAC.
Às vezes a vida é um horroroso pesadelo para o Espírito, e muitas vezes custa a terminar.
LA ROCHEFOUCAULT.
Aí está a sua prova: se ele resiste, dá um passo para o progresso, se não, entrava a rota que deve conduzi-lo ao porto.
MARTIN.
No despertar da alma que saiu vitoriosa das lutas terrenas, o Espírito está maior e mais elevado; se sucumbir, encontra-se tal qual ele era.
PASCAL.
É renegar o progresso querer que a língua seja emblema da imutabilidade de uma doutrina religiosa; além disto, é forçar o homem a orar mais com os lábios do que com o coração.
DESCARTES.
A imutabilidade não reside na forma das palavras, mas no verbo do pensamento.
LAMENNAIS.
Jesus dizia aos seus apóstolos que fossem pregar o Evangelho em sua língua, e que todos os povos os compreenderiam.
LACORDAIRE.
A fé desinteressada faz milagres.
BOILEAU.
A doutrina de Jesus não é sentida nem compreendida senão pelo coração; então, seja qual for a maneira pela qual a expressem, ela será sempre o amor e a caridade.
BOSSUET.
As preces ditas ou escritas e que não são compreendidas, deixam vagar o pensamento, permitindo que os olhos se distraiam pelo fausto das cerimônias.
MASSILON.
Tudo mudará, sem contudo voltar à simplicidade de outrora, o que seria a negação do progresso. As coisas serão feitas sem fausto e sem orgulho.
SIBOUR.
O amor triunfará, e virão com ele a sabedoria, a caridade, a prudência, a força, o conhecimento, a humildade, a calma, a justiça, o gênio, a tolerância, o entusiasmo, e a glória majestosa e divina esmagará, por seu esplendor, o orgulho, a inveja, a hipocrisia, a maldade e o ciúme, que arrastam no seu séquito a preguiça, a gula e a luxúria.
EUGÈNE SUE.
O amor reinará, e para que ele não tarde, é preciso, corajoso Diógenes, tomar nas mãos o estandarte do Espiritismo e mostrar aos humanos os vermes roedores que formam feridas em sua alma.
SÃO LUÍS.
OBSERVAÇÃO: Este gênero de comunicação levanta uma questão importante. Como os fluidos de tão grande número de Espíritos podem assimilar-se quase que instantaneamente com o fluido do médium, para lhe transmitir seu pensamento, quando tal assimilação por vezes é difícil da parte de um só Espírito, e geralmente só se estabelece com vagar?
O guia espiritual do médium parece ter previsto, porque dois dias depois lhe deu a seguinte explicação:
“A comunicação que obtiveste no dia de Todos os Santos, bem como a última, que é o seu complemento, embora nesta haja nomes repetidos, foram obtidas da maneira seguinte: Como sou teu Espírito protetor, meu fluído é similar ao teu. Coloquei-me acima de ti, transmitindo-te o mais exatamente possível os pensamentos e os nomes dos Espíritos que desejavam manifestar-se. Eles formaram ao meu redor uma assembleia cujos membros, cada um por sua vez, ditava os seus pensamentos que eu te transmiti. Isto foi espontâneo, e o que naquele dia tornava as comunicações mais fáceis é que os Espíritos presentes tinham saturado a sala com seus fluidos.
“Quando um Espírito se comunica com um médium, ele o faz com tanto mais facilidade quanto melhor estabelecidas entre si as relações fluídicas, sem o que o Espírito, para transmitir seu fluido ao médium, é obrigado a estabelecer uma espécie de corrente magnética que atinge o cérebro deste, e se o Espírito, em razão de sua inferioridade, ou de outra causa qualquer, não pode, ele próprio, estabelecer essa corrente, recorre à assistência do guia do médium, e as relações se estabelecem como acabo de demonstrar.”
SLENER.
Uma outra pergunta é esta: Entre esses Espíritos, não há nenhum que esteja encarnado neste ou em outro mundo e, neste caso, como podem eles comunicar-se? Eis a resposta que foi dada:
“Os Espíritos de um certo grau de adiantamento têm uma radiação que lhes permite comunicar-se simultaneamente em vários pontos. Em alguns, o estado de encarnação não diminui essa radiação de maneira tão completa a ponto de impedilos de se manifestarem, mesmo em estado de vigília. Quanto mais avançado o Espírito, mais fracos os laços que o unem à matéria do corpo; ele está num estado de quase constante desprendimento, e pode-se dizer que está onde está seu pensamento.
UM ESPÍRITO.