Revista espírita — Jornal de estudos psicológicos — 1863

Allan Kardec

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Este livro notável e consciencioso é obra de um distinto cientista, que se propôs tirar da própria Ciência e da observação dos fatos a demonstração da realidade das ideias espiritualistas. É mais uma peça em apoio à tese que sustentamos acima. É mais ainda, porque é um primeiro passo, quase oficial, da Ciência, na via espírita; aliás, em breve será seguido ─ e disto temos certeza ─ por outras adesões mais ressonantes ainda, que levarão os negadores e adversários de todas as escolas a refletir seriamente. Bastará citar o fragmento seguinte para mostrar em que espírito a obra é concebida. Acha-se à página 331.

“Vê-se ─ e é sem sombra de dúvida um sinal dos tempos ─ a seita espiritista, que já tive ocasião de mencionar no § 15, tomar uma rápida extensão entre pessoas de todas as classes e as mais esclarecidas, sem contar o lamentável e lamentado Jobard, de Bruxelas, que se havia tornado um dos mais alertas campeões da nova doutrina.

“O fato é que se se examinar esta doutrina, não seria, como fiz de princípio, na pequena brochura do Sr. Allan Kardec Que é o Espiritismo? É impossível não notar quanto sua moral é clara, homogênea, consequente com ela mesma, e quanto de satisfação ela dá ao espírito e ao coração. Se lhe tirassem a realidade das comunicações com o mundo invisível, restar-lhe-ia sempre isto, e é muito, é o bastante para arrastar numerosas adesões e explicar seu sucesso crescente.

“Quanto às comunicações com o mundo invisível, creio ter demonstrado cientificamente que não só eram possíveis, mas que deveriam ocorrer diariamente no sono. A inspiração em vigília, cuja autenticidade ou natureza é impossível pôr em dúvida, de acordo com o que eu disse, é aliás uma comunicação desse gênero, posto possa haver casos em que não seja senão o resultado de um maior grau de atividade do Espírito.

Agora, se se verificar onde essa comunicação se traduz por noções estranhas ao médium que as recebe, nada vejo aí que não seja eminentemente provável, e é, em todos os casos, uma questão que pode ser resolvida na ausência dos sábios, que cada médium, que tem a medida de seus conhecimentos no estado normal, ─ e as pessoas de sua família e de seu convívio podem julgar melhor que ninguém, de sorte que se o Espiritismo diariamente faz prosélitos fora da questão moral, ─ é que aparentemente ele produz médiuns em quantidade suficiente para fornecer a prova de seu estado particular a quem quer que deseje examiná-los sem ideias preconcebidas.

“A moral, tal qual a compreendo e a deduzi de noções científicas ─ não temo reconhecê-lo ─ tem numerosos pontos de contacto com aquela transmitida pelos médiuns do Sr. Allan Kardec. Também não estou longe de admitir que se nas páginas por eles escritas muitas há que não ultrapassam o alcance ordinário do espírito humano, inclusive o deles, deve havê-las, e as há, de um tal alcance que lhes seria impossível escrever outras idênticas nos seus momentos ordinários.

Tudo isto não me leva menos a desejar que uma doutrina que não oferece o menor perigo, e que, ao contrário, eleva o espírito e o coração tanto quanto é possível desejá-lo, no interesse da Sociedade, se expanda todos os dias de mais a mais. Porque, segundo o que tenho lido, calculo que é impossível ser um bom espírita sem ser um homem de bem e um bom cidadão. Não conheço muitas religiões das quais se possa dizer o mesmo.”

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